6.11.08

hoje de manhã

agora eu estou no meio deles.
dos pinguins vestidos corretamente, correndo, com postura e paletó que se movimenta junto com os cabelos grisalhos ao bater do vento.
descem as escadas rapidamente, estão atrasados, estou atrasada.
vamos todos caminhando como se estivéssemos juntos, eu e a cambada de mortais comuns uniformizados.
a minhoca de metal, corre rápido de mais, como se soubesse da necessidade de economizar tempo que cada um ali dentro tinha.
a morena gostosa de todas as manhãs, entra. desfilando como sempre.
nem tão gostosa hoje.
alias, eu venho observando, faz tempo que ela não tá mais gostosa.
ela tá comum. comprou um tênis novo, horrivel, desses de correr, prateado!
os japoneses corcundas e imortais empatam a passagem dos homens e das mulheres de negócios.
juntos, nós todos, novamente. caminhando rumo a multinacional que nos alimenta com pães quentes nos domingos frios.
lotamos mais um vagão. onde existem exatamente as mesmas pessoas, porém com traços diferentes. a morena dessa baldiação, eu não tinha visto ainda.
ela tinha cabelo comprido e jogava seus fios feitos a ferro horas a fio.
posicionava a mão na cintura, de forma que a bunda fique mais empinada.
todos os engravatados olham pra ela.
inclusive eu.
porém, não com o mesmo olhar. ela é só uma morena, e morena por morena, eu ainda me tenho.
cada vez que eu me movimentava, ela jogava os fios e ajeitava a blusa que mostrava o pedaço de quase peito que ela tinha.
essas transições de vida tão complexas me completam.
eu acho que eu até gosto da minha inconstância e revolta.
eu gosto do meu modo de evitar conversas matinais chegando sempre atrasada no colégio pra não encontrar ninguém no caminho.
minhas pessoas, estão selecionadas. e eu não preciso de mais nenhuma por perto, ou por longe.
pra mim basta, eu e mais meia dúzia de alguéns.

hoje, na hora que foi dada a largada. eu me senti o tal boi, comendo com toda a boiada.
que devorava rapidamente, outros bois, esses cozidos.
gastei alguns dinheiros hoje.
cheguei em casa cedo, e me sinto tão completa e feliz, que eu acho que posso até dizer bom dia pra uma das morenas quando eu e minha simpátia matinal, esbarrar em alguém que não acompanha os meus passos acelerados naturalmente.

eu fico pensando, qual será a graça da vida, se não, ser liberto de tanto robotismo?

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