28.8.08

Aline.

ela sentava meio torto.
e sempre cantava a mesma música.
teimava sempre, nos mesmos tons, nas mesmas frases.
ela teimava com tudo, com todos.
conhecia todos, falava com todos.
todos diziam coisas boas sobre ela.
ela era o cara.

se ela pudesse... faria um outro lugar, onde marte ama marte, e vênus pode passear de mãos dadas com vênus, sem se preocupar.
mas com um vento não tão covarde. que é pra eu não ter medo dela nunca mais voltar.

ela vinha sempre com o cabelo igual. todososdias.
gostava de sexo. de amor. e de mulher. da mulher dela.
eu fico com medo por ela. medo das pulseiras, do cabelo unido. dos planos, cairem de lá de cima. assim, com ela.
ela gostava de saber, que os animais estavam vivos,
ela gostava mesmo, era de estar sempre por perto me contando aventuras quase mentirosas.

um dia eu fui na casa dela, acho que eu era a nona... ou a centésima pessoa que se instalava na estante dela.
fomos pra casa dela. trocamos salivas. trocamos risadas.
nós sempre tivemos praticamente o mesmo grau de idiotice engraçada.

um dia eu me senti na obrigação de decidir entre a e b. sabe.?
e eu decidi. perdi a perdi b perdi z.
perdi, e depois, me voltou tudo. dizem que deus sempre tá olhando as coisas e não vai te foder.
é verdade. ele viu o lance todo.

ela tinha mania de andar atrás.
andava devagar, com as pernas um pouco abertas, e uma pulseira preta no braço direito.
que no sol, ficava mais branco do que o normal.
um dia ela resolveu andar na frente.
acho que olhou pro lado errado.... dessa vez não deu certo atravessar a rua se jogando na frente dos carros com um cigarro dentre dedos.
um ônibus, e um carro, prenderam ela no meio deles dois.
ela começou a flutuar. seu ombro tava no ônibus pregado e no carro, pregado.
ela gritou meu nome rindo alto. e esticou um dedo. como quem fosse me alcançar.
e ela tinha uma risada tão velha. ela era velha. era forte de tantas lágrimas que ela nunca derrubava, mas que a vida pedia pra ela derrubar todos os dias.

ela foi atropelada. e ela riu.
ela chegava a ser bonita as vezes.
mas não quando ela tava sendo atropelada.
se você falasse que era. ela falaria que não era. e quando ela visse que era. ela falaria que ela descobriu sozinha, que era.

ela era o cara.

e eu não vou esquecer o cheiro do cabelo preso sempre igual dela, hoje.
o abraço que ela me deu, de leve. como quem não quer encostar de mais.

já cheguei a sonhar a nossa roda gigante.
já cheguei a sonhar nosso futuro de lésbicas felizes, e casadas.
ah menina, eu vou te guardar comigo.
nosso canto tá guardado. nosso canto tá gravado.


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