25.6.08

um homem pra chamar de meu.

foi num dia de bonecas. das loiras com os seios grandes.
que eu me perguntei. porque a Polly tinha um pai, e eu não.
ela tinha, minhas amigas tinham, as pessoas da novela tinham, eu não.
os cachorros têm pai, sabe.
pode ser que considerem na verdade, ingratidão, afinal, se observarem pelo que se chama eu tinha uns 6.
eu chamava todos os namorados dela, de pai.
e ela mudava tão rápido, que eu as vezes não conseguia acompanhar.

'crianças, o dia dos pais está chegando, vamos todos fazer duplas para montarem seus presentes.'

e nem um pai eu tinha.
as vezes, eu fazia o presente pro João e já tinha mudado pra José.
era bem mais rápido do que as minhas pernas curtas conseguiam acompanhar.
ganhava a Barbie do João, e quando eu ia agradecer, era o José.
rápido.

eu não tinha fotos, não tinha timbre de voz, eu não tinha noção, nem ele pra me cobrir nas madrugadas frias.
não tinha.
eu não queria mudar os nomes, me acostumei com eles.
e provavelmente o nome dele, seria outro, um nome novo.
um rosto novo.
só que os meus nove anos me permitiram um pouco mais de inteligência, se eu fosse atrás, teria um só nome pelo resto da vida.
pra receber o nome, pai.
sem imaginar corte de cabelo.
tom da pele.
jeito da barba.
sem imaginar a marca das roupas.
ou o cigarro que ele pudesse fumar.
eu fui. eu queria um só nome.

ele vem de Minas Gerais.
cheio de boa vontade pra fazer o que dizem identificar uma coisa ou outra.
7 horas de atraso.
desisto, fico com os 6 nomes.
quase não me contive de alegria quando o telefone da minha casa tocou.
era ele.
tinha chegado.
belo, e completamente diferente do que eu me lembrava no resto das fotos que eu encontrei deformadas pelo fogo.

me abraça, o gosto da vitória. eu encontrei um só nome, um só pai.
por que será que ele não veio me procurar antes de eu ter que ir?
por que será que pra ele era mais fácil não ter uma filha?
prefiro acreditar que ele estava muito ocupado com as suas 6 mulheres.
prefiro.
gosto do que é fácil.
simplesmente me atrai.
agora era só ele. e eu passei realmente a noite inteira olhando ele dormir.
vendo o formato dos seus olhos, dos seus lábios, o corte do seu cabelo.
agora sim, ele existia.
era o meu pai.

que resolveu agora, sumir de novo.
acho que o fácil atrai ele também.
deve ser coisa de família, dessas que almoçam juntas nos domingos.
talvez, quando eu tiver uma fixa, eu descubra que gosto tem o macarrão dos domingos.
ou que cor tem, a árvore de natal, no natal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Cá querida, eu sei suas dificuldades, mas ele voutou porque ele te amava, Não ?!

Mas "Cá" ele é seu pai, mesmo querendo ou não, ele sempre será seu pai . . .

Da sua Amiga " Sá "