24.11.08

a senhora

as senhoras são tão senhoras, que usam roupas de senhoras.
andam como senhoras, devagar.
sentam como senhoras, parecem quebrar-se em vinte.
falam como senhoras.

as senhoras, são tão senhoras que têm amigas senhoras.
e as mães dessas senhoras, já morreram, de tão senhoras que eram.
morreram de senhoras, de desgosto, de solidão, de doença.
morreram.
as senhoras com as suas amigas senhoras que levam horas a fio pra atravessar uma avenida, vão morrer também, e outras senhoras virão.

nessas horas, quando senhoras morrem, eu chego até a pensar, no pra que.
pra que aguentar esse meu patrão filho da puta passar com todas as minhas contas penduradas no pescoço dele, e nem ao menos me dar bom dia.
pra que me esquivar de problemas, sendo que uma hora ou outra, eu sempre bato de frente com os maiores possiveis.
pra que esperar tanto tempo na fila, sendo que se eu roubar eu não preciso passar por ali.
é bem aquele ditadinho clichê que diz que a vida é só uma brincadeira na qual ninguém sai vivo.
e é bem por ai.

eu quero mesmo, é morrer de amor.
fumar quantos cigarros eu quiser.
beber quanto o meu dinheiro der, ou se melhor, quanto eu aguentar correr.

eu quero mesmo, é ter saúde enquanto ela me for útil.
comer de tudo um pouco.
e de cada pouco, aproveitar tudo.
quero mais é viver sem orgulho e cair quantas vezes eu aguentar levantar depois.

não quero ser senhora.
não.

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